O Cavalo do Sorraia

Esta raça primitiva estará directamente na origem de raças de cavalos da região meridional da Península Ibérica, fruto de maior selecção e melhoramento, tanto a Puro-Sangue-Lusitano como a Pura-Raza-Española, bem como de raças equinas da América do Sul (em particular o Crioulo argentino e brasileiro), descendentes de animais oriundos do Vale do Guadalquivir. A sua relação com os Mustang da América do Norte, se bem que evidente, pode ser resultante da influência que os cavalos ibéricos, em geral, tiveram nos cavalos existentes naquele continente.

O Cavalo do Sorraia pode, na generalidade, ser definido como uma raça de cavalos de pequena estatura, eumétricos, mesomorfos e subconvexilíneos, como que de uma miniatura do cavalo lusitano se tratasse. A pelagem é caracteristicamente baio pardo ou rato, com lista de mulo e maior ou menor evidência de zebruras na cabeça e nos membros. São animais extremamente resistentes às duras condições ambientais em que sempre se criaram, aproveitando os restolhos de pastagens em terrenos pobres de cal. Estas características denunciam tratar-se de um tipo de cavalo primitivo.
Ruy d'Andrade e cujos indícios remetem para a zona de confluência entre as ribeiras de Sor e da Raia (daí o seu nome), charneca de Coruche, onde haveria uma extensa população, popular entre criadores de gado para trabalhos do campo.

Sistema de Criação

As éguas são mantidas em regime de manadio, em exploração de tipo extensivo, alimentando-se de pastagens naturais mais ou menos enriquecidas, aproveitando muito frequentemente os restolhos das searas. Em períodos de seca e menos abundância de pastagem, a sua alimentação pode ser reforçada manualmente. Como foi referido anteriormente, é reconhecida a rusticidade destes animais, adaptando-se com facilidade à pobreza dos solos e respectivas pastagens
Por volta dos seis meses os animais são marcados a fogo com um número e o ferro do criador, respectivamente na espádua (ou no pescoço) e na coxa direita, sendo retirada uma amostra de sangue para realização do controlo de filiação, obrigatório para que o animal seja inscrito no Studbook da raça. Aproveita-se geralmente o momento para fazer a toilette dos animais, cortando-lhes as crinas e a rabada de modo a evitar uma maior incidência de ectoparasitas. Em alguns casos é administrado o primeiro tratamento profilático (vacinação e desparasitação). Nem sempre se efectua o desmame, permanecendo a eguada e respectivas crias em conjunto.
Por volta dos três anos os machos são separados da restante manada, podendo ser posteriormente estabulados e desbastados para trabalhos agrícolas, sela ou atrelagem.
Nas coudelarias de maior efectivo, a cobrição é actualmente feita em liberdade, juntando-se o garanhão à eguada durante toda a época de monta (geralmente entre Fevereiro e Junho), já que esta raça tem revelado menor sucesso reprodutivo com a prática do lançamento à mão.
A recuperação deste tipo equino primitivo, actualmente designado por Cavalo do Sorraia, deve-se ao hipólogo Dr. Ruy d’Andrade que, em 1920, enquanto caçava narcejas nos arredores do vale do Rio Sorraia, perto de Coruche, reparou numa manada pertencente ao Sr. António Anselmo, onde se distinguiam cerca de 20 animais extremamente homogéneos, de pelagem baia ou rato, com listas de mulo e zebruras, de cabeça acarneirada, extremidades escuras e aspecto geral e carácter absolutamente primitivos. Estas características levaram-no a admitir que se tratava de uma forma selvagem, resíduo do cavalo pre-histórico da P. Ibérica, ali conservado pela pobreza da região, com poucas hipóteses de ocorrerem cruzamentos com outros tipos de cavalos mais selectos. De facto, o fraco maneio a que os cavalos eram sujeitos nestas regiões fizeram com que apenas os animais autóctones, mais primitivos e perfeitamente adaptados às condições de rusticidade pudessem sobreviver.