O Cavalo Garrano

A criação de Garranos é uma actividade com tradição do Minho e Trás-os-Montes em Portugal e ela complementa outros aproveitamentos agrícolas, florestais e pecuários.
Cavalo Garrano em Ponte do Lima (Feiras Novas 2010)

Devido a esse papel secundário mas de extrema importância para a pequena exploração agrícola, o Garrano, apesar de ser uma das três raças de cavalos autóctones em Portugal, foi menosprezado em termos de questões higieno-sanitárias, de produção da raça, de perda de pureza racial e de variados outros aproveitamentos.

Origem Histórica
Ao longo dos tempos, e apesar de ser um cavalo muito antigo, o Garrano tem conservado a sua morfologia. Segundo alguns autores, a origem do Garrano teria fortes raízes do cavalo de tipo Árabe, devido ao perfil recto da cabeça observado em alguns exemplares, e a sua expansão teria acompanhado as invasões bárbaras.
Podemos deduzir que o Garrano existe na Península Ibérica desde o Paleolítico, e aí se conservou até hoje. O Garrano actual não se distanciou muito dos seus antepassados pré-históricos, tanto genética como morfologicamente. Para tal terão contribuído certamente o isolamento das suas regiões de criação, bem como a forma de criação em liberdade que tem sido desde sempre utilizada e que lhes permitiu, através da selecção natural, manter as suas características de excepcional adaptação ao habitat montanhoso.

Características Gerais da Raça

O Garrano é um cavalo pequeno, de sólida estrutura física e com características muito próprias que conserva desde há longos tempos.
Nos locais onde podem ser encontrados os exemplares mais puros (regiões montanhosas do Alto Minho, Trás-os-Montes e Galiza), criados em regime de liberdade e num estado semi-selvagem, verifica-se uma perfeita concordância da sua morfologia com a caracterização da raça.

Perfil da Raça:

Tipo – perfil recto, por vezes côncavo. Animais de corpo atarracado, penicurtos de sólida constituição óssea. O seu peso rondará entre os 150 Kg e 200 Kg. O pêlo de inverno dá-lhe o aspecto ursino.
Pelagem – castanha comum, podendo tender para o escuro; quase sempre sem sinais. Mais clara no focinho puxando para o bocalvo, por vezes também mais clara no ventre e nos membros. Topete farto. Crinas pretas, tombando para ambos os lados. Cauda também preta, com borla de pêlos encrespados na raiz.
Cabeça – fina mas vigorosa e máscula. Nos machos é grande em relação ao corpo, proporcionalmente maior que nos cavalos. Perfil recto, por vezes côncavo. O crânio insere-se sempre na face com grande inclinação, de forma a que a parte superior da fronte é convexa de perfil; a crista occipital é pouco saliente em relação aos côndilos. Orbitas salientes sobre a fronte, transversalmente plana. Os olhos são redondos e expressivos. Narinas largas. Orelhas médias. Os dentes são característicos (de tipo céltico: estilídeos bipartidos, protocone central e talonado sem prega cabalina). As ganachas são fortes e musculosas. A expressão geral é de vivacidade e coragem.
Pescoço - bem dirigido e musculoso, mas curto e grosso, especialmente nos garanhões.
Garrote – baixo e pouco pronunciado.
Dorso – recto.
Garupa – forte, horizontal ou ligeiramente descaída, quadrada, com ancas grossas e salientes, com inserção baixa da cauda que é comprida e farta.
Costado – ligeiramente arredondado, espádua pouco inclinada e mais longa que curta.
Coxa – dirigida e musculada.
Membros – fortes, curtos e grossos, com boletos muito resistentes e bem guarnecidos de machinhos, quartelas curtas e pouco inclinadas, cascos cilíndricos e muito duros. Em geral os membros são deficientemente aprumados, o que é mais notório nos animais estabulados devido à deficiente higiene das camas.
Altura – média ao garrote nos animais adultos: 1,20 m (o critério de admissão actual é 1,35 m máximo).

O Garrano é um animal que exprime um temperamento à medida da sua criação. Se for criado em pastoreio livre, com pouco contacto com o homem, com falta de maneio, o Garrano será receoso e utilizará as suas defesas naturais, podendo os machos inteiros mostrar-se agressivos. Isto não é mais do que um comportamento forjado no seu habitat de forma a garantir a própria sobrevivência. Se caso contrário for criado com a presença do homem e com o maneio adequado, revela-se um extraordinário companheiro para adultos e crianças, sempre vivo, alegre e corajoso, conservando contudo uma sobriedade e segurança que os torna dignos de toda a confiança nos caminhos de montanha.
O Garrano tem um andamento curto, que aparenta ser descuidado, mas que transmite uma elevada segurança, própria de um animal habituado a enfrentar os mais íngremes e pedregosos caminhos. É um animal muito resistente, podendo percorrer longas distâncias diárias, com cargas apreciáveis sem manifestar esgotamento. Á semelhança de outros pequenos cavalos e póneis, o Garrano apresenta mais dois andamentos artificiais para além dos três andamentos naturais, passo, trote e galope, sendo estes a andadura e o passo travado ou passo baixo, cuja denominação francesa é amble e tolt respectivamente. A andadura é um andamento a dois tempos como o trote em que a progressão se faz por bípedes laterais, isto é são deslocados simultaneamente os dois membros do mesmo lado, enquanto os contrários fazem apoio ao andamento. A andadura é um andamento a dois tempos como o trote em que a progressão se faz por bípedes laterais, isto é são deslocados simultaneamente os dois membros do mesmo lado,  
enquanto os contrários fazem apoio ao andamento.

Estes andamentos tem uma tradição muito antiga, já conhecidos e apreciados pelos povos Romanos, devido à sua resistência, rapidez e cómodos, de tal forma que o próprio exército Romano os utilizou largamente em serviços de posta e tracção, chegando mesmo a exportá-los para outras regiões do Império.

Actualmente estes andamentos são pouco utilizados, mas tiveram os seus tempos áureos quando o cavalo constituía o principal meio de transporte nas regiões montanhosas da Península Ibérica.
Análise do Sistema de Criação

Os Garranos são mantidos todo ano em pastoreio livre, aproveitando as áreas de serra, baldios e incultos, utilizando pastos naturais, matos e pastos arbóreos, consumindo uma gama variada destes alimentos nomeadamente na Primavera, altura do ano em que os rebentos dos matos e as folhas das árvores são mais tenras. Das espécies vegetais que constituem a dieta dos Garranos podemos destacar : o tojo, a giesta, a carqueja, a silva, a genista e algumas gramineas e leguminosas que ocorrem naturalmente nos pastos de montanha. No que respeita as pastagens arbóreas podemos destacar: o carvalho, o vidoeiro, o medronheiro, o azevinho, a faia, do qual consomem as folhas jovens e as bagas quando estão maduras.
Os Garranos deslocam-se em grupos de números variável constituído por várias fêmeas, e um garanhão adulto. A reprodução é feita em total liberdade, consequentemente com pouco controle por parte do homem. Este, geralmente, apenas tem contacto com a manada duas ou três vezes por ano.
Neste sistema de criação não é praticado qualquer controle higienico-sanitário, suplementação alimentar, ou abrigo artificial. Nestas condições, a selecção natural está sempre presente, o número de acidentes é elevado e a produtividade é baixa, devido muitas vezes à predação exercida pelo lobo ou por cães vadios sobre os recém-nascidos.

O Garrano como Factor Produtivo

Ao longo dos tempos, o homem tem utilizado o Garrano mediante a região de criação. Assim, vamos elaborar a utilização do Garrano sob quatro aspectos diferentes:
  • A produção de carne
  • O Trabalho
  • A utilização desportiva e turística
  • O estrume
Durante essas épocas,o garrano prestou um serviço inestimável às populações rurais do Norte de Portugal. Com o desenvolvimento dos meios de transporte, vias de comunicação e máquinas agrícolas, a importância e o peso do Garrano diminuiu bastante. Contudo, na sua região de origem, ele continua a ser utilizado em tarefas agrícolas pelo facto da propriedade rústica ser de pequena dimensão e possuir um declive acentuado.

A utilização desportiva e turística tem algumas tradições na região de criação do Garrano sob a forma das populares corridas de andadura ou passo travado. Estas corridas tem uma grande popularidade e embora com características expontâneas e organização rudimentar, não deixam de demonstrar pela sua influência de concorrentes e público, todo o seu enraizamento cultural nas regiões do Norte de Portugal. Estas corridas realizam-se por ocasião das feiras e romarias, um pouco por todo o norte do País. Nas várias feiras anuais desta regiões, importantes pela grande comercialização de gado, estas corridas manifestam uma afluência de participantes bastante elevada, já com alguma organização e prémios aliciantes em disputa. Estas feiras são também os principais mercados de comercialização de Garranos.

Comercialização

A comercialização e o destino dos potros varia conforme a região de produção. Nas áreas onde se pratica o sistema extensivo, a maioria dos potros e adultos de refugo é destinado ao abate, sendo vendida através de intermediários que adquirem grupos de animais por preços relativamente baixos, fazendo depois uma selecção dos melhores exemplares que comercializam fora da região. A venda por parte dos agricultores/produtores é geralmente feita em pleno campo e a olho.

Nas áreas onde os Garranos estão estabulados, o próprio agricultor/produtor encarrega-se de transportar os animais até às feiras.

Como já foi referido, a avaliação dos animais é feita a olho, seja qual for o seu destino, nunca se pratica a pesagem ou a licitação em leilão como é verificado em outras raças de cavalos.

No que respeita quantificação de valores comerciais, podemos referir os seguintes aspectos:

Para recria, as fêmeas são geralmente mais valorizadas que os machos. O valor do Garrano varia conforme as aptidões do animal, grau de ensino, conformação, idade, sexo, pelagem, etc.Os garranos ensinados em passo travado e com aptidão desportiva podem atingir valores muito elevados.

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